domingo, 25 de dezembro de 2011

São Paulo, a cidade mais cara do mundo. Como assim?

Semana passada li essa matéria que me aliviou, mas não me chocou. Tinha tido essa mesma impressão quando estive na Espanha e em Portugal em julho deste ano.













Aproveito para compartilhar uma constatação de comportamento curiosa : meu filho de 7 anos estava comigo durante a viagem e ficamos em casas de amigos  que tinham filhos pequenos.




Fiquei espantada ao reparar na quantidade de brinquedos dessas crianças. Uma quantidade infinitamente menor do que o que tem qualquer um de nossos filhos.


Qual a criança que não gosta de ganhar 50 presentes de aniversário? Sim, criança adora presente...mas será que eles tem tempo de brincar com tudo isso? Meu filho se divertia tanto pelas praças e parques, que nem cogitou em entrar em alguma Ri Happy ( caso elas existissem lá, e thanks god, não existiam). 


Minha questão é: Precisamos mesmo gastar R$ 50,00 e comprar um presente novo ( aqueles cacarecos de plástico que se acumulam e eles nunca brincam) a cada aniversário? Nossa educação diz que é feio dar presente usado ( mesmo que nunca tenha sido realmente usado) mas será que não seria o caso de cada criança pegar um brinquedo que não brinca mais e passar pro amigo? Com todas essas políticas de sustentabilidade, não seria ao menos bom para o nosso planeta, como as próprias crianças dizem? Isso não poderia ser ensinado nas escolas por exemplo? 


Isso não significa darmos restos ou velharias, ou sermos mal-educados, também não significa que somos muquiranas ou que não temos condições financeiras, mas significa pensarmos numa maneira menos consumista de encararmos o mundo, e passar isso pra nossas crianças.


Não sei exatamente o que fazer, aceito sugestões, mas não concordo com o nosso consumismo de forma exagerada. E isso não tem nada a ver com poder aquisitivo, mas com cultura e educação.


No final da viagem meu filho trocou o aviãozinho que ele tinha levado, que pra ele tinha muito valor, por 2 partituras de música do amigo. Foi uma negociação de dias, ou seja, pra que ele conseguisse, além de suar a camisa, ele precisou abrir mão de um bem material que ele gostava. Depois de um mês lá com ele, tinha a impressão de que algum valor eu tinha conseguido mudar. 


Mas depois de uma semana aqui em São Paulo, já me pedia inúmeros brinquedos, e já estava infeliz e instatisfeito porque seu brinquedo não era "original" como o do amigo da escola. E aquelas partituras adquiridas com tanto esforço e tanta negociação já não faziam tanto sentido.


Chegando em São Paulo, outra situação curiosa: passando por uma praça, encontrei uma festa de aniversário. 


Comentei com uma das convidadas que eu casualmente conhecia: "Adorei a iniciativa, aqui em São Paulo, qualquer 4 horinhas num buffet infantil ou no galpão do circo ou qualquer casa de evento custam R$ 4.000,00. Na Europa todas as festas infantis são realizadas em praças ou parques." 


Foi quando minha conhecida me contou que na verdade a festa não era para a filha, mas sim da cadela, e por isso ela estava fazendo na praça...
Sim, a festa tinha bolo, brigadeiro, bexigas, refrigerante, tudo o que a... CADELA tinha direito...  e os convidados na verdade eram... os outros cachorros... Vai entender...






Alain de Botton veio pra cá e se impressionou com tanta ostentação. 
Segue o link completo da entrevista, mas separei alguns trechinhos que me interessam abaixo.


http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1011999-no-brasil-alain-de-botton-critica-elite-caos-de-sp-e-desigualdade.shtml


"Sim, fui a um coquetel em São Paulo, após uma palestra que dei para a elite [na Sala São Paulo] e fiquei espantado com o refinamento deles, muito mais do que qualquer um que você encontraria em Londres. Não sei, não era exatamente uma riqueza decadente, mas extremamente privilegiada, de um jeito que me pareceu impossível de acontecer no Reino Unido. Uma conversa de "pegamos o helicóptero para ir ali", "a limousine está aí fora", "minha filha está estudando na Alemanha". As diferenças são tão... uau! Nós saímos do prédio e havia algo que parecia um cadáver, mas que provavelmente ainda era uma pessoa. Isso é extremo."


Não sei de quem é essa foto. Sei que ela já foi publicada na revista Piauí, mas não consigo dar o crédito. Se alguém lembrar por favor coloque nos comentários. Obrigada.


"Você vê na geografia urbana que é uma cidade em que ninguém parou para pensar "como podemos fazer essa cidade habitável, bonita, calma?". Foi tudo corrido, preocupado em fazer dinheiro, em se projetar no cenário internacional, e não houve muito tempo para pensar em parques e coisas do tipo. Num dia cinza, parece uma visão do inferno."






Ano passado trabalhei durante 2 meses no Rio, e todos os dias tomava café da manhã na padaria da Urca, um dos bairros mais caros de lá. Gastava R$ 5,80.
Quando cheguei aqui, veio o choque: a mesma coisa que eu comia (uma média e um queijo branco quente): R$ 13,50.


A questão é: eu sempre paguei os R$ 13,50 sem questionar, mas depois de passar 2 meses pagando metade do preço todos os dias, percebi o quanto custava caro aquele pedaço de pão com queijo...


Pior de tudo: as pessoas se acostumam e se envergonham de achar caro. 


Já questionei várias vezes no caixa do supermercado: "esse suco estava por R$ 4,00 na gôndola e aí está marcando R$ 6,05". A questão não são os R$ 2,05. A questão é: se está marcando R$ 4,00 e estão me cobrando R$6,05, não estão sendo honestos comigo, certo? 


A caixa chama o gerente e pede pra ele verificar. Ele vai. A pessoa que está atrás bufa, porque está com pressa, ou porque pensa: "essa mão de vaca está questionando R$2,05". ou até mais: "essa vaca está questionando esses R$ 2,05. Até parece que ela não tem". ou: "Que diferença faz isso, perto da minha pressa?" Aquele pensamento individualista da burguesia paulistana, que se envergonha de QUESTIONAR. O gerente volta. Pede desculpas. "Realmente, lá esta marcando R$4,00 porque está em promoção, mas "esquecemos" de mudar o código de barras".


Isso já aconteceu inúmeras vezes. Outro dia encontrei um amigo meu no caixa questionando a mesma coisa. Pedi licença. Concordei com ele. Ajudei no discurso. Fui cúmplice, dizendo que isso já tinha me acontecido algumas vezes.


A questão toda é de princípios.


Fiz uma pesquisa entre as amigas que moram fora de São Paulo. Na sorveteria Santini, no bairro do Chiado, em Lisboa, um sorvete custa 3E. Na Plaza del Sol, no bairro da Gracia, em Barcelona, um sorvete custa 3E. Em Roma, terra do sorvete, o preço médio também é de 3E. Porque, justo onde o salário mínimo é de R$ 545,00, um sorvete similar na Vila Madalena pode custar R$18,00? Uma escola pode custar R$2.000,00? Qualquer comprinha que a gente faça no supermercado sai por R$ 200,00... E a tradicional pizza de domingo? Sim, aquela que era a opção de programa barato pra família? No mínimo são R$ 100,00. E a gente continua achando normal...


Pra bancar tudo isso e ainda guardar algum dinheiro, eu teria que ganhar R$10.000,00 por mês, e mesmo assim, ainda não conseguiria guardar.


O pior: aqui nós trabalhamos, trabalhamos, trabalhamos e não recebemos nada em troca. Não conseguimos matricular nossos filhos em escolas públicas, não conseguimos um sistema de saúde decente, não temos direito a um transporte de qualidade... Complicado...


Então, o Brasil não é a bola da vez? Não temos todo o dinheiro do mundo em nossas mãos? Então, não seria AGORA a hora de tomarmos uma atitude?


Enquanto a classe média continuar concordando com esse sistema, as coisas vão continuar assim. Uma pena.




PRECISO COLOCAR UM PS NESSE POST. Semana passada ( hoje é dia 01.02) fui na sorveteria a que me referia, e o sorvete que custava R$18,00 passou a custar R$14,00. É, parece que não fui só eu que constatei esse fato.

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