sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Semana da mobilidade

Foto: Tatiana Weberman - SlowMovie

Se antes o objetivo era trabalhar, ganhar dinheiro, ter cada vez mais coisas e menos tempo, as palavras da nova era são: compartilhar e desacelerar.

Durante a semana da mobilidade, alguns eventos provaram que São Paulo está na contramão do mundo. A cidade desacelerou, mas não como gostaria.

A semana da mobilidade, que antecedeu o dia mundial sem carro, em 22/09, foi repleta de palestras, discussões e ações propostas para repensar a mobilidade da nossa cidade.

Carro x Carruagem

Uma corrida entre uma carruagem pilotada pelo artista plástico Eduardo Srur e um carro de 180 cavalos dirigido pelo piloto Ingo Hoffmann, provou que numa cidade que não se move, um cavalo numa ciclovia vale mais que 180 numa via expressa.
Os dois saíram da Estação Granja Julieta, e percorreram 2,7 km até a Ponte Estaiada. Srur pela ciclovia, e Hoffmann pela via expressa da Marginal Pinheiros.
O desafio teve empate técnico. O carro, durante a prova, permaneceu boa parte do tempo ao lado da carruagem.

Srur colocou uma carruagem na Ponte Estaiada, um dos cartões postais da cidade, chamando atenção para a imobilidade da nossa cidade.




"Como é que nós, dentro de um modelo de progresso, retrocedemos a tal ponto de que hoje a pessoa de dentro de um carro se locomove a mesma velocidade de uma carruagem há 200 anos atrás?" questiona Srur.


Video produzido pela aiuê filmes mostra a instalação da obra.

Ou seja, evoluímos para retroceder.

" A Ponte Estaiada é um símbolo da cidade de São Paulo. É uma ponte que não resolve a urgência da mobilidade urbana, ela custou muito caro e ela está do lado do Rio Pinheiros, que é um dos rios mais poluídos do mundo, é um rio morto e isso sim e um símbolo de descaso com a nossa cidade."

Desafio intermodal

No desafio intermodal, realizado no dia 13 de setembro, 15 pessoas em diversos tipos de transportes saíram da Av. Luis Carlos Berrini, as 18 hs, onde boa parte da população trabalha, e se deslocaram para o centro de São Paulo. O primeiro a chegar foi o helicóptero, seguido da bicicleta ( com menos de 2 minutos de diferença), da moto e dos patins. Contando o custo da hora de vôo do helicoptero e os poluentes que ele emitiu, nada mais justo que a vitória ter sido novamente da bicicleta.

Com a linha amarela, o usuário do metrô também levou vantagem sobre o ano passado.

Mas o que mais chamou atenção nesse caso foi que o pedestre, que foi CAMINHANDO, chegou apenas um minuto e meio depois que o carro, comprovando mais uma vez a imobilidade da nossa cidade.

O percurso que a bicicleta realizou em 24 minutos, o carro levou 1:41:00.

Participantes do desafio intermodal em frente a prefeitura de São Paulo
Transformando vagas para carros em espaço para as pessoas.

Durante essa semana vagas próximas a Av. Paulista foram ocupadas por pessoas.
Alunos de uma escola próxima estudavam sobre compostagem numa tenda, uma" etiqueta humana" chamava atenção da população para a lei, que obriga os carros a virem das montadoras com informações sobre emissão de poluentes mas não é cumprida, um quebra-cabeças com os rios de São Paulo foi montado no Conjunto Nacional pelo pessoal do " Rios e Ruas".

Segundo Jose Bueno, do projeto " Rios e Ruas", em São Paulo existem inúmeros rios invisíveis. "A nascente do rio Saracura, por exemplo, está aqui bem próximo de nós. Fica ali atrás do Macksoud Plaza (...) é um dos formadores do rio Anhangabau."


Praia na Paulista

Mais de 50 dias sem chover em São Paulo e no dia que antecedeu o evento, choveu. Praia de paulista mesmo, e dessa vez NA Paulista. Mas a chuva do dia anterior não atrapalhou o evento. A avenida mais querida de São Paulo se transformou numa praia. Biquíni, sunga, canga, frescobol. Oficinas diversas. Um jogo de xadrez gigante montado em plena Praça do Ciclista. Bicicletas ocupando a ciclofaixa fora do horario permitido. E gente, muita gente.





Eduardo Srur
Uma ação, criada pelo Dia Mundial sem Carro foi proposta: cada um imprimia uma plaquinha e escolhia o seu meio de tranporte. " Eu vou de _______ no dia mundial sem carro, mas o governo da minha cidade não colabora."
A intenção novamente era de chamar atenção para outras formas de deslocamento que não fosse o carro.
A manifestação foi divertida: Eu vou de biquíni, de canga, de elevador, de disco voador, de vassoura, de óculos, "de scalça", e até de bike, por que não?
Eduardo Srur, Renata Falzoni, até Ingo Hoffmann, que participaria de um rally no DMSC também participaram da brincadeira.

Renata Falzoni

Felipe Matsumoto e Lucas

Ingo Hoffmann

Mauricio Tomaselli
SlowMovie

Na onda da desaceleração Tatiana Weberman montou o projeto SlowMovie. No dia mundial sem carro, foi exibido o filme "Bagdad Café", entre outras atrações no Parque do Povo.

" Foi uma coincidência. Escolhi a data por causa da abertura da primavera e dois dias depois descobri que era o dia mundial sem carro".

Coincidência ou não, a cidade agradece.
foto: Caio Cestari 
Como disse Eduardo Srur: " Eu não posso resolver o problema da mobilidade mas eu posso ajudar as pessoas a enxergarem a cidade de outra forma."
Então fica a dica:
São Paulo, já que não dá pra acelerar mais, atenção:

Foto: Caio Cestari





terça-feira, 14 de agosto de 2012

Invisíveis até fora da bicicleta

Uma mulher no balcão do laboratório, um homem no caixa do supermercado e um conhecido que se deparou com 40 ciclistas na sua frente. O que essas pessoas tem em comum?

Elas não me enxergam, mesmo que eu esteja SEM a minha bicicleta. 

Vou explicar melhor:

Sábado levei meu filho pra fazer uns exames de laboratório.
Cheguei no balcão, toquei a campainha e fiquei ali esperando.
No mesmo momento em que a mulher do laboratório apareceu no balcão, uma mulher, magra, com peitos visivelmente fabricados, bolsa de marca famosa carregada no antebraço, camiseta colada e calça jeans chegou como se o mundo fosse acabar e começou a falar com a atendente. "Falar" é modo de dizer.  Eu nem lembro o assunto direto, mas indiretamente o que ela queria dizer era: "eu sou superior a você, você está aqui pra me servir".  Imediatamente pensei: ela foi incapaz de ver que tinha alguém esperando aqui pra ser atendida, provavelmente nas ruas vai jogar seu "carro-mansão" em cima da minha bicicleta pra me mostrar qual o meu lugar:  na calçada, nos parques, em outro país, menos na sua frente, claro. Afinal assim como só ela tem pressa para ser atendida no balcão, só ela deve ter pressa pra chegar em casa.

Domingo a noite, no supermercado eu passava minhas poucas compras no caixa ( as que eu consigo carregar na bicicleta), e um homem atrás de mim tentava empurrar com seu carrinho a cestinha que eu tinha colocado no lugar ( embaixo do caixa, no cantinho).  É que o carrinho que ele tinha pego era tão grande e tinha tantas compras que ele não conseguia enxergar a pobre cestinha no chão. Mas algo que ele não sabia o incomodava e ele não saiu de trás do carrinho pra ver o que era. Só "chutava"o obstáculo com o carrinho. Pedi licença, abaixei e girei a cesta, deixando-a no lado menor pra que ele pudesse passar.

Assim como ele faria com a minha bicicleta no trânsito: pressionaria aquela "cestinha"que incomodava pro canto direito da pista, até que conseguisse passar, custasse o que custasse.

A tarde, numa conversa com um grupo de amigos e conhecidos, uma pessoa na mesa disse: "eu não gosto de ciclista". continuei ouvindo. "Outro dia, eu estava na av. Cidade Jardim e me deparei com um grupo de uns 40 ciclistas andando pela rua, me atrapalhando."

Perguntei: "mas se fossem 40 carros, eles não estariam atrapalhando?" e ela "ah, carro tudo bem".

Esse mesmo pensamento levou  Ricardo Neis a atropelar 17 ciclistas em fevereiro de 2010 em Porto Alegre. Eles estariam "atrapalhando" o seu caminho.

Desde que eu troquei o carro pela bicicleta, mudei muitos hábitos. Não foi uma mudança pensada. Isso foi acontecendo aos poucos. Mudei meus hábitos de consumo: comecei a comprar menos, bem menos. Comecei a PRECISAR de menos. Comecei a prestar mais atenção na cidade. Comecei a prestar mais atenção nas pessoas. Saí do meu mundo e comecei a fazer parte do mundo de verdade. Parei de ouvir a minha música e reparar nos sons da cidade ( bem barulhenta por sinal). Notei também o silêncio que se faz depois da chuva, quando volto pra casa.

Não tive mais medo de ser assaltada. Impressionante: fiquei mais vulnerável, mas me sentindo muito mais segura.


Tornei-me invisível.


Sou invisível até mesmo aos olhos do ladrão. A não ser que o objeto de desejo dele seja uma bicicleta. Mas geralmente o ladrão quer o que está escondido dentro dos "carros-mansões". Ou dos muros, cada vez mais altos que se erguem na nossa cidade.


Esquecendo todas os caminhos que a bicicleta me abriu e tudo o que ela trouxe, o mais importante é que comecei a reparar no espaço que eu ocupo. E só tendo consciência do espaço que eu ocupo, é que consigo respeitar o espaço do próximo.

Vou republicar esse vídeo da Renata Falzoni, que eu acho sensacional, explicando exatamente a relação do ciclista x cidade, ciclista x espaço e ciclista x energia.


Usar a bicicleta como meio de transporte faz a gente enxergar um monte de coisas. Além do que nós enxergamos nas ruas, como um "terceiro olho" que nos dá um plano geral do que acontece entre carros, pedestres, semáforos e detalhes da cidade ( conforme ilustrações abaixo), nós enxergamos o espaço do outro, no trânsito fora dele também.

O que enxergam os motoristas:



O que enxergam os ciclistas: 


imagens tiradas do bikeyface.com

http://bikeyface.com/2012/02/23/seeing-things/


A bicicleta é só um instrumento de transformação. É só um objeto que nos dá a consciência de cidadania. Estando nela ou fora dela, percebemos o mundo de forma diferente, não melhor nem pior, só diferente. Percebemos acima de tudo, as pessoas.

Então, homem do carrinho, mulher do peito comprado e pessoa que não gosta de ciclistas: somos invisíveis, mas enxergamos e respeitamos vocês, mesmo não concordando com suas atitudes...




segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Qual a maneira mais econômica, mais rápida e mais divertida de voltar pra casa?

Marginal pra quem está de carro

Marginal pra quem está de trem

Marginal pra quem está de bike

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Entrega da carta a deputada Marina Sant'Anna na Rio+20

Em nome da Bicicletada Nacional, Renato Zerbinato e Mara Marchetti entregaram nesta quarta-feira, 20 de junho uma carta a deputada Marina Sant'Anna. A deputada é presidente da frente parlamentar de defesa as ciclovias.




A carta fala sobre a importância da bicicleta como meio de transporte e pede mais segurança para ciclistas e pedestres.


A deputada não usa a bicicleta como meio de transporte (sua opção de deslocamento é a motocicleta), mas entende que as cidades precisam ser pensadas a partir da escala humana. "Pedestres são sempre ignorados. ( O uso da bicicleta) não é um tema novo no brasil. Todas as leis que tratam de mobilidade no Brasil tratam também do uso da bicicleta no trânsito. O que acontece é que as cidades foram se conformando pra outra lógica, elas são carro-centristas. Elas colocam o carro como o dono das vias. São criadas estruturas enormes, viadutos que inclusive impedem a passagem de pedestres e ciclistas, isso é totalmente absurdo, vai na contra-mão do resto dos países mais avançados na questão dos direitos civis."


E afirma: " Tem que fazer planos cicloviários dentro do plano diretor de mobilidade como um todo, seja da cidade, seja de uma região metropolitana, tem que estar casado com o plano diretor das cidades de mais de 20.000 habitantes..."


Phillip James Fiuza, ciclista que mora em Brasília, atentou também a campanhas de educação no trânsito. "Aqui no Rio de Janeiro pedalar em Copacabana e Ipanema é maravilhoso, mas no resto da cidade... Pela lei, onde tem ciclovia, o ciclista deve pedalar lá. Mas não existem ciclovias que integrem a cidade inteira. Quando você tem algo que segrega a mentalidade acaba sendo pior. Não é de inclusão, mas de segregação."

Phillip foi mais além: "se eu tiver que escolher entre melhorias de calçadas para pedestres, cadeirantes e deficientes e ciclovias eu fico sem ciclovia. Porque a pista é meu lugar também, eu já tenho meu lugar e eles ( pedestres) não tem opção."

Também foi falado sobre os projetos mau executados, que são criados por não-usuários de ciclovias. A deputada ressaltou a importância da colaboração dos ciclistas nos comitês: " Tem que propor uma espécie de conselho que conte com ciclistas, antes de executar os projetos de uso intermodal." E também propôs  um sistema integrado: "A Câmara Federal tem como fazer com as Assembléias Legislativas um sistema de diálogo online. É possível fazermos diálogos nacionais. E ao mesmo tempo a gente dar uma esquentada pra mexer nos parlamentos locais e que a lei seja cumprida."

A lei manda priorizar em primeiríssimo lugar o pedestre, em segundo lugar as bicicletas e terceiro o transporte público. Observou que a lógica está sendo invertida para 5.600 municípios e falou sobre o crescimento das cidades pequenas, onde as pessoas usam muito a bicicleta, chamando a atenção também a essas cidades.

Também sugeriu fazer um material específico sobre a lei orientando as prefeituras como por exemplo um vídeo educacional. Segundo a deputada tem linhas de financiamento que não são utilizadas e a própria lei não e conhecida por muitos gestores. 

Segundo Renato Zerbinato, é impossível que um gestor conheça a legislação, já que ela é bem ampla, não só na questão da bicicleta, por isso entende que esse trabalho de movimento social seja importante. Segundo ele, essa mesma carta será encaminhada  pra todos os governadores e também para a Frente Nacional dos Prefeitos. "Essa é a forma que nós temos de atingir e colaborar".




Abaixo a carta na íntegra.


Carta à Presidenta Dilma Roussef

Excelentíssima Senhora Dilma Roussef
Presidenta da República
O projeto Bicicletada Nacional RIO+20 foi concebido por ocasião da Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável / RIO+20 e idealizado por grupo de ciclistas de todo o Brasil que utilizam a bicicleta como meio de transporte em suas cidades. Estas pessoas, oriundas de todos os cantos do país, partiram de suas respectivas cidades e pedalaram milhares de quilômetros em direção ao Rio de Janeiro com vistas a sensibilizar o Governo Federal, gestores públicos e cidadãos a entender a oportunidade que o Brasil tem em reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa a partir de políticas públicas consistentes que promovam a bicicleta como meio de transporte sustentável e altamente viável para as cidades e grandes centros urbanos.
Soma-se a este argumento, central nas discussões sobre as mudanças climáticas, uma série de motivos que levam diversos países a incentivar a retomada das bicicletas nos espaços urbanos, em especial na última década. Além de melhorar a mobilidade urbana e reduzir a emissão de gases poluentes, a bicicleta pode representar importante instrumento de cidadania, educação, saúde pública e inclusão, motivando ações de transformação política, social, econômica e ambiental local. Neste sentido, a bicicleta passa de simples veículo de locomoção para veículo de mobilização social, que comunica diversas mensagens e estimula a prática de valores como respeito, interação e integração entre pessoas e estas com o ambiente, cooperação, inclusão social, valorização da diversidade cultural e étnica, além de amenizar a dicotomia entre sociedade e natureza.
No mundo inteiro, os Governos têm incentivado cada dia mais o uso das bicicletas, principalmente nas grandes cidades, oferecendo sistemas cicloviários completos, sistemas de bicicletas públicas, caminhos cicláveis e seguros, além de outras estruturas e instalações físicas, como paraciclos e bicicletários seguros, campanhas educativas e diversas outras vantagens, além de diversas formas de restrições que desmotivam as pessoas a usar o veículo automotor, substituindo-o por outras formas de mobilidade urbana, tal como a bicicleta e o caminhar.
O Brasil é signatário de vários acordos políticos internacionais que têm como meta a redução de emissões de CO2. E mais, o país tem se comprometido, de forma voluntária, a aumentar a sua meta de redução de emissões previstas nestes acordos. Basicamente, a meta será alcançada com a redução das queimadas florestais, desmatamentos e uso de combustíveis fósseis em veículos automotores. Porém, o investimento e a forma como a política de mobilidade urbana tem sido tratada pelos gestores públicos ainda são pífios e não colaboram efetivamente para a mudança cultural e a inclusão da bicicleta, por exemplo, como meio de transporte acessível, viável, seguro, eficiente e não poluente.
Entendemos que conferências desta amplitude devam estar alinhadas com outras ações da própria ONU. Conferência sobre sustentabilidade e redução de emissão de gases sem tratar a bicicleta como alternativa real de complementação para a solução da mobilidade urbana e sem tratar o Plano Nacional de Redução de Acidentes e Segurança Viária para a Década de 2010/2020 é o mesmo que seguir reinventando a roda, desvalorizar e desconsiderar uma série de reflexões e trabalhos já realizados no passado.
É imprescindível que exista um nivelamento em âmbito nacional, e que o debate se mantenha atualizado através de seminários temáticos, assim como é imprescindível que o avanço deste debate paute a criação de marcos legais e políticos que consolidem a cultura da bicicleta no país.
Os participantes do projeto Bicicletada Nacional RIO+20 são ciclistas comuns, que usam a bicicleta no dia-a-dia e se interessam pelo amplo debate sobre mobilidade urbana sustentável, adequação dos espaços para pleno conforto e segurança dos pedestres e garantia da acessibilidade universal.
A participação intensa de diversos debates públicos, de seminários presenciais e de mobilizações pelas redes sociais, procurando identificar a realidade brasileira e quais as maiores necessidades que os usuários de bicicleta apresentam no seu dia-a-dia, propiciaram o aprofundamento no tema e resultaram nesta carta de intenções, redigida especialmente para a Conferência RIO+20, dirigida às diversas esferas governamentais e que agora é entregue em mãos à representante do Governo Federal, à Frente Parlamentar em Defesa das Ciclovias do Brasil, aos Governadores de todos os Estados e do Distrito Federal e também à Frente Nacional de Prefeitos na expectativa de tornar evidente a importância de investimentos públicos em ações que promovam o uso da bicicleta como meio de transporte diário.
Importante ressaltar a necessidade de, neste ano eleitoral, os candidatos darem atenção ao tema e incluírem diretrizes importantes em seus respectivos programas de governo.
Acreditamos que com a construção de políticas públicas para o incentivo do uso da bicicleta e restrições ao uso do carro individual o Brasil possa colaborar ainda mais com a redução da emissão de poluentes.
O investimento sério nesta área pode reduzir os atuais gastos com saúde pública, prevenindo acidentes de trânsito, transformando paulatinamente as cidades em excelentes centros urbanos, diminuindo o nível de stress, aumentando a qualidade de vida e promovendo um cotidiano mais sustentável, para a atual e as futuras gerações.
Desta forma, propomos:
a) Apoiar ao Programa Bicicleta Brasil do Ministério das Cidades, que pretende criar diretrizes e orientações para a implantação de Sistemas Cicloviários nos Municípios brasileiros e hoje se encontra sucateado, sem pessoal ou nenhum tipo de estrutura;
b) Realizar imediatamente estudos em âmbito nacional sobre a situação do uso da bicicleta nas cidades Brasileiras, como contagem de ciclistas e avaliação das estruturas cicloviárias já existentes nas cidades;
c) Fiscalizar e fazer cumprir a legislação que garante incentivos aos modos coletivos e não motorizados de transporte;
d) Promover a integração da bicicleta com os outros modais;
e) Promover campanhas educativas voltadas à segurança e ao respeito aos ciclistas e pedestres, com ampla divulgação nos canais de comunicação;
f) Criar e manter um programa de formação permanente sobre mobilidade urbana sustentável voltado a professores, servidores dos órgãos responsáveis pelos setores de transporte e trânsito, DENATRAN, CONTRAN, Instrutores dos Centros de Formação de Condutores, Departamento de Estradas de Rodagem, Ministérios dos Transportes, entre outros;
g) Fiscalizar com rigor todos os tipos de infrações cometidas pelos motoristas, como estacionamento irregular e ameaça a ciclistas e pedestres, a exemplo das infrações previstas nos artigos 181, 193, 201, 214 e 220 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB);
h) Incentivar medidas de moderação de tráfego nas cidades, a exemplo da redução do limite de velocidade nas vias e pedágios urbanos como estacionamentos rotativos. Medidas desse tipo incentivam o transporte não motorizado, o transporte público coletivo e aumentam a segurança no trânsito;
i) Incluir o Dia Mundial Sem Carro (22 de Setembro) e o Dia Nacional do Ciclista (19 de Agosto) no calendário de comemorações oficiais, promovendo eventos para celebrar estas datas.
j) Instituir uma política de mobilidade voltada ao pedestre, com o objetivo de criar caminhos seguros, sombreados e acessíveis às pessoas com dificuldade de locomoção;
k) Realizar consultas públicas, audiências, debates, seminários, inserindo a sociedade civil, as entidades ligadas ao tema e especialistas de todo o Brasil na concepção de sistemas cicloviários locais;
l) Apoiar os seguintes Projetos de Lei que estão em trâmite da Câmara dos Deputados:
PL 6474/2009 – Institui o Programa Bicicleta Brasil;
PL 3211/2008 – Objetiva a aplicação dos recursos da CIDE-Combustíveis na construção de ciclovias;
PL 646/1999 – Altera o artigo 320 do CTB sobre a aplicação de recursos de multas de trânsito na construção de ciclofaixas e ciclovias;
PL 1493/2011 – Obriga  importadores e fabricantes de bicicletas a fornecer manual contendo normas de circulação, penalidades, direção defensiva, primeiros socorros e Anexos do CTB;
PL 1043/2011 – Estipula multa de 20% no preço do veículo para quem comercializá-los sem os equipamentos obrigatórios de segurança;
PL 949/2011 – Concede isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados para bicicletas;
PL 3437/2008 – Dispõe sobre a instalação de estacionamentos para bicicletas;
PL 2956/2004 – Desobriga a instalação de campainhas e retrovisores nas bicicletas;
PL 2629/2011 – Obriga a inclusão de ciclovias nas rodovias federais.
Assinam esta carta os integrantes do projeto Bicicletada Nacional RIO+20 e todas as entidades e pessoas que oficializaram seu apoio a esta jornada, incentivando os pedalantes que aceitaram este importante desafio, de atravessar este imenso país, representando e levando a público as demandas dos ciclistas de todo o Brasil.
Atenciosamente,
 COORDENAÇÃO
BICICLETADA NACIONAL RUMO À RIO+20


Rio de Janeiro, 21 de junho de 2012 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Chegaram as laranjinhas em Sampa.



Foi inaugurado em São Paulo o sistema de bikes compartilhadas do Itau. O sistema existe no Rio há menos de um ano e é um sucesso.
Claro que não podemos comparar as duas cidades: uma é plana, outra não. Uma é pequena, outra não. uma tem 160 km de ciclovia, outra ainda batalha uma ciclovia na Faria Lima ( faço questão de repetir isso sempre, porque é inadmissível que não exista uma ciclovia ligando o Ceasa até o Ibirapuera), e principalmente: uma aceita a bicicleta como parte da cidade e outra AINDA não.


A princípio as bikes estão disponíveis na região da Vila Clementino/Vila Mariana, e depois serão colocadas próximas ao parque do Ibirapuera e Av. Paulista.
Até o final do ano teremos 1.000 bicicletas em São Paulo.

O que muda em São Paulo? 

Este número parece pouco para uma cidade do tamanho de São Paulo, mas achei a escolha do bairro interessante. O bairro da Vila Mariana é um bairro antigo e simpático da cidade, e com muito movimento de carros e pedestres. As "laranjinhas" ( como foram apelidadas no Rio) estão despertando curiosidade e boa aceitação entre os moradores.



A maioria dos deslocamentos que causam 200 km de trânsito é feita por carros que percorrem média de 6 km. Se for possível ter a opção de fazer este percurso de bicicleta quem realmente precisar se deslocar por uma distância grande, poderá fazer sem trânsito. Talvez no começo haja alguma resistência, porque muita gente ainda acredita que não é possível andar de bicicleta em São Paulo, mas com o tempo, acredito no sucesso do projeto.

Não sei se minha observação faz sentido, mas penso que um banco que tem o nome como o Itau, só agrega valores a cultura da bicicleta.
Explicando melhor: ao observar uma bicicleta, algo tão frágil, porém "protegida"por uma instituição financeira de grande porte, talvez isso consiga mudar a mentalidade de alguns cidadãos paulistanos e pode ser que eles consigam aceitá-las como parte do trânsito da cidade.

http://www.youtube.com/watch?v=6kRaJJa5IzQ&feature=youtu.be

Apesar do projeto ser uma parceria entre o Itau e prefeitura de São Paulo, a grande questão é que as bicicletas não vem acompanhadas de uma estrutura segura.

Bicicletas foram pintadas no asfalto nas ruas do bairro sinalizando as ciclorrotas, mas não há uma faixa separando as bikes dos carros. Então há uma grande curiosidade entre os moradores, mas não há segurança suficiente para quem pedala.

Particularmente eu concordo com a sinalização e o compartilhamento da pista na Vila Mariana.
Mas pra quem ainda não se acostumou fica complicado se arriscar no meio dos carros.

E ai fica a pergunta pros nossos governantes: Quando será que a gente vai poder contar com uma estrutura que realmente funcione na cidade inteira?



Sim, a cidade acaba de ser presenteada com 1000 bicicletas e espero que saiba retribuir. Mas acredito que saberá. Desde que troquei o carro pela bicicleta, só fui recompensada.



Pra quem quiser saber como funciona o sistema operacional, este link explica tudo.



terça-feira, 29 de maio de 2012

Posições situacionistas a respeito do trânsito



O que me fez transformar um monte de ideias que eu tinha num blog foi um texto sugerido pelo Cláudio Tozzi, professor da FAU, quando eu fui procurá-lo pedindo ajuda para um projeto de fotos.

Eu tinha feito uma série de fotos nos parques, durante minhas pedaladas pela ciclofaixa aos domingos, e queria me aprofundar um pouco mais.

O texto falava sobre a teoria da deriva, que está na abertura do blog.

Todo mundo que descobre a bicicleta carrega um pouco dessa teoria, mesmo sem saber.

Porque é imediato a mudança na relação com a cidade e no ponto de vista.

Enfim, isso me levou a querer fazer uma pós-graduação, e aqui estamos!

Vou publicar o texto de Guy Debord, escrito em 1959 sobre o trânsito.

1.

O erro de todos os ubanistas é considerar o automovel individual ( e seus subprodutos, como a motocicleta) essencialmente como meio de transporte. A rigor, ele é a principal materialização de um conceito de felicidade que o capitalismo desenvolvido tende a divulgar para toda a sociedade.  O automovel, como supremo bem de uma vida alienada e, inseparavelmente, como produto essencial do mercado capitalista esta no centro da mesma propaganda global. ouve-se com frequencia, este ano, que a prosperidade econômica norte-americana dependerá em breve do exito do slogan: "Dois carros por familia".

2.

O tempo gasto nos transportes, como bem observou Le Corbusier, é um sobretrabalho que reduz a jornada de vida chamada livre.



3.

Precisamos passar do trânsito como suplemento do trabalho ao trânsito como prazer.

4.

Querer refazer a arquitetura em função da existência atual, maciça e parasitária dos carros individuais é deslocar os problemas com grave irrealismo. É preciso refazer a arquitetura em função de todo o movimento da sociedade, criticando todos os valores efêmeros, ligados a formas de relações sociais condenadas ( a familia é a primeira delas).

5.

Mesmo que seja possível admitir provisoriamente, num período de transição, a divisão absoluta entre zonas de trabalho e zonas de habitação, será necessário ao menos prever uma terceira esfera: a da vida em si ( a esfera da liberdade dos lazeres - a verdade da vida). Sabe-se que o urbanismo unitário não tem fronteiras; pretende constituir uma unidade total do meio humano no qual as separações do tipo trabalho-lazer e coletivo-vida privada serão dissolvidas. mas, antes, a ação minima do urbanismo unitário é o terreno de jogos estendidos a todas as construções desejaveis. Esse terreno terá o grau de complexidade de uma cidade antiga.

6.

Nao se trata de combater o automovel como um mal. Sua exagerada concentração nas cidades é que leva a negação de sua função. E claro que o urbanismo nao deve ignorar o automovel, mas menos ainda aceita-lo como tema central. Deve trabalhar para o seu enfraquecimento. Em todo caso, pode-se prever sua proibicao dentro de certos conjuntos novos assim como em algumas cidades antigas.

7.

Quem julga que o automóvel é eterno não pensa, até do mero ponto de vista técnico, nas futuras formas de transporte. Por exemplo, certos modelos de helicóptero individuais que estão sendo agora testados pelo exército dos Estados Unidos encontrar-se-ão ao alcance do público talvez daqui a menos de 20 anos.

8.

A ruptura da dialética do meio humano em favor dos automóveis ( há projetos de abertura de auto-estradas em Paris que acarretarão a desturição de milhares de moradias, enquanto a crise habitacional se agrava cada vez mais) disfarça a própria irracionalidade sob explicações pseudopráticas. Mas sua verdadeira necessidade pratica corresponde a um determinado estado social. Os que julgam os dados do problema permanentes querem, de fato, crer na permanência da sociedade atual.

9.

Os urbanistas revolucionários não se preocuparão apenas com a circulação das coisas, nem apenas com os homens paralisados num mundo de coisas. Tentarão romper essas cadeias topológicas por meio da experimentação de terrenos , para que os homens transitem pela vida autêntica.



quinta-feira, 24 de maio de 2012

Voltando de bike da escola!



Há mais ou menos 2 meses, quando os caminhões não puderam entrar na cidade e começou a faltar combustível, meu filho, de 8 anos me perguntou: "mãe, se acabar o combustível na cidade não vai mais ter carro? nem ônibus? nem moto? Então finalmente vou poder ir de bike pra escola?"

Num outro dia, aproveitei a ciclofaixa pra levá-lo na casa do amigo. Como era proximo a escola, ele questionou: "porque nao podemos ir pra escola de bicicleta?".

"Porque nos dias de semana não há ciclofaixa."

Pensando nessas observações e no trânsito de 249 km que fez hoje devido a greve dos metroviários em SP, resolvi quebrar um paradigma e buscá-lo na escola.

A escola dele fica a 5 km de casa. Desrespeitei a lei que proíbe bicicletas na calçada, mas achei mais seguro. Ele veio na minha garupa. Fui perdoada por pedestres e protegida por motoristas gentis que paravam para que eu atravessasse com segurança.

Sim, fiz minha parte como cidadã, contribuí para uma cidade mais humana, menos caótica, e deixei meu filho muito feliz!

Fico muito orgulhosa de poder compartilhar com ele essa cidade maravilhosa que enxergamos da bicicleta!