sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Semana da mobilidade

Foto: Tatiana Weberman - SlowMovie

Se antes o objetivo era trabalhar, ganhar dinheiro, ter cada vez mais coisas e menos tempo, as palavras da nova era são: compartilhar e desacelerar.

Durante a semana da mobilidade, alguns eventos provaram que São Paulo está na contramão do mundo. A cidade desacelerou, mas não como gostaria.

A semana da mobilidade, que antecedeu o dia mundial sem carro, em 22/09, foi repleta de palestras, discussões e ações propostas para repensar a mobilidade da nossa cidade.

Carro x Carruagem

Uma corrida entre uma carruagem pilotada pelo artista plástico Eduardo Srur e um carro de 180 cavalos dirigido pelo piloto Ingo Hoffmann, provou que numa cidade que não se move, um cavalo numa ciclovia vale mais que 180 numa via expressa.
Os dois saíram da Estação Granja Julieta, e percorreram 2,7 km até a Ponte Estaiada. Srur pela ciclovia, e Hoffmann pela via expressa da Marginal Pinheiros.
O desafio teve empate técnico. O carro, durante a prova, permaneceu boa parte do tempo ao lado da carruagem.

Srur colocou uma carruagem na Ponte Estaiada, um dos cartões postais da cidade, chamando atenção para a imobilidade da nossa cidade.




"Como é que nós, dentro de um modelo de progresso, retrocedemos a tal ponto de que hoje a pessoa de dentro de um carro se locomove a mesma velocidade de uma carruagem há 200 anos atrás?" questiona Srur.


Video produzido pela aiuê filmes mostra a instalação da obra.

Ou seja, evoluímos para retroceder.

" A Ponte Estaiada é um símbolo da cidade de São Paulo. É uma ponte que não resolve a urgência da mobilidade urbana, ela custou muito caro e ela está do lado do Rio Pinheiros, que é um dos rios mais poluídos do mundo, é um rio morto e isso sim e um símbolo de descaso com a nossa cidade."

Desafio intermodal

No desafio intermodal, realizado no dia 13 de setembro, 15 pessoas em diversos tipos de transportes saíram da Av. Luis Carlos Berrini, as 18 hs, onde boa parte da população trabalha, e se deslocaram para o centro de São Paulo. O primeiro a chegar foi o helicóptero, seguido da bicicleta ( com menos de 2 minutos de diferença), da moto e dos patins. Contando o custo da hora de vôo do helicoptero e os poluentes que ele emitiu, nada mais justo que a vitória ter sido novamente da bicicleta.

Com a linha amarela, o usuário do metrô também levou vantagem sobre o ano passado.

Mas o que mais chamou atenção nesse caso foi que o pedestre, que foi CAMINHANDO, chegou apenas um minuto e meio depois que o carro, comprovando mais uma vez a imobilidade da nossa cidade.

O percurso que a bicicleta realizou em 24 minutos, o carro levou 1:41:00.

Participantes do desafio intermodal em frente a prefeitura de São Paulo
Transformando vagas para carros em espaço para as pessoas.

Durante essa semana vagas próximas a Av. Paulista foram ocupadas por pessoas.
Alunos de uma escola próxima estudavam sobre compostagem numa tenda, uma" etiqueta humana" chamava atenção da população para a lei, que obriga os carros a virem das montadoras com informações sobre emissão de poluentes mas não é cumprida, um quebra-cabeças com os rios de São Paulo foi montado no Conjunto Nacional pelo pessoal do " Rios e Ruas".

Segundo Jose Bueno, do projeto " Rios e Ruas", em São Paulo existem inúmeros rios invisíveis. "A nascente do rio Saracura, por exemplo, está aqui bem próximo de nós. Fica ali atrás do Macksoud Plaza (...) é um dos formadores do rio Anhangabau."


Praia na Paulista

Mais de 50 dias sem chover em São Paulo e no dia que antecedeu o evento, choveu. Praia de paulista mesmo, e dessa vez NA Paulista. Mas a chuva do dia anterior não atrapalhou o evento. A avenida mais querida de São Paulo se transformou numa praia. Biquíni, sunga, canga, frescobol. Oficinas diversas. Um jogo de xadrez gigante montado em plena Praça do Ciclista. Bicicletas ocupando a ciclofaixa fora do horario permitido. E gente, muita gente.





Eduardo Srur
Uma ação, criada pelo Dia Mundial sem Carro foi proposta: cada um imprimia uma plaquinha e escolhia o seu meio de tranporte. " Eu vou de _______ no dia mundial sem carro, mas o governo da minha cidade não colabora."
A intenção novamente era de chamar atenção para outras formas de deslocamento que não fosse o carro.
A manifestação foi divertida: Eu vou de biquíni, de canga, de elevador, de disco voador, de vassoura, de óculos, "de scalça", e até de bike, por que não?
Eduardo Srur, Renata Falzoni, até Ingo Hoffmann, que participaria de um rally no DMSC também participaram da brincadeira.

Renata Falzoni

Felipe Matsumoto e Lucas

Ingo Hoffmann

Mauricio Tomaselli
SlowMovie

Na onda da desaceleração Tatiana Weberman montou o projeto SlowMovie. No dia mundial sem carro, foi exibido o filme "Bagdad Café", entre outras atrações no Parque do Povo.

" Foi uma coincidência. Escolhi a data por causa da abertura da primavera e dois dias depois descobri que era o dia mundial sem carro".

Coincidência ou não, a cidade agradece.
foto: Caio Cestari 
Como disse Eduardo Srur: " Eu não posso resolver o problema da mobilidade mas eu posso ajudar as pessoas a enxergarem a cidade de outra forma."
Então fica a dica:
São Paulo, já que não dá pra acelerar mais, atenção:

Foto: Caio Cestari