segunda-feira, 26 de março de 2012

World Bicycle Relief e World by Cycle



WORLD BICYCLE RELIEF


Logo depois de descobrir os encantos da bicicleta, descobri uma organização americana que já arrecadou mais de 100.000 bicicletas para as regiões mais pobres da África: a World Bicycle Relief. Me apaixonei pelo projeto e me inscrevi como voluntária.


O PODER DAS BICICLETAS


Na África, a bicicleta é muito mais que um meio de locomoção: este objeto tão simples e sustentável é essencial para a transformação de muitas vidas. 
Este filme mostra exatamente o que pode representar uma bicicleta nessas comunidades.



Mais do que encurtar distâncias, ela promove independência.

A bicicleta é doada aos adolescentes para poderem chegar as escolas, mas fora dos horários de aula, é utilizada pelas famílias para comprar comida, transportar água e todas as demais necessidades.

Cada bicicleta doada é a vida de uma familia transformada. Cada bicicleta doada é uma criança frequentando a escola. Cada bicicleta doada é um sonho realizado, uma possibilidade de futuro.

A primeira menina a receber uma bicicleta do projeto, Mary Lewanika, quer estudar medicina, e isso não teria sido possível se ela não tivesse condições de frequentar a escola.


Foto fornecida pelo "World Bicycle Relief"


Imagem fornecida pelo "World Bicycle Relief".
Pra falar de seu poder transformador e da diferença da bicicleta em cidades da África ou em outras cidades do mundo, Frederick k. Day, fundador da World Bicycle Relief compara: "em Nova York, por exemplo ela pode melhorar a vida de todos, mas lá ela salva vidas."

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ubDVpMHhFgk#!

Um artigo recente da BBC, publicado no dia 14/03, cita a utilidade e importância do trabalho da World Bicycle Relief:


" Com uma bicicleta, você pode ir buscar água fresca, você pode obter assistência médica, você pode ir para o emprego ou conseguir um emprego melhor. Não significa que ela te fornece água fresca, mas te dá acesso a ela e tudo se torna acessível." http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-17115923


World by Cycle é um projeto de circunavegação em que os exploradores Nic e Kristina vão dar a volta ao mundo pedalando e, entre outros objetivos, vão divulgar e arrecadar fundos para o World Bicycle Relief.





Eles estarão aqui no Brasil de 03/04 a 21/04, passando por Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, parando nas comunidades locais, ao longo do caminho, descobrindo a sustentabilidade e diversidade ambiental.O material coletado durante a viagem será transformado em 7 filmes de 20 minutos.


Para ajudá-los, vamos vender estes adesivos a R$5,00 em algumas lojas e restaurantes aqui em São Paulo.


Também dá pra contribuir fazendo uma doação de qualquer valor via internet. É só mandar um email pra gente, que nós enviamos o link.

rachelwbr@globo.com 
denizewbr@globo.com 

O World x Cycle e o World Bicycle Relief também estão no facebook:







 

quinta-feira, 22 de março de 2012

A bicicleta na sociedade do automóvel.
















"Aqui vc não pode entrar. Por que? Ah! Porque vc é pobre!
Comecei a ser barrada no bar, barrada na festa, barrada no baile, barrada nos lugares teoricamente chiques porque eu era... CICLISTA. Então comecei a entender que ciclista não tinha nem aceitação social como consumidor. Quer dizer, aí caiu a ficha do real problema social brasileiro. O problema das bicicletas na rua é cultural. cultural "my a..."! Sabe o que está por trás disso? Está por trás disso a primeira exclusão social, por que eu não tenho um carro, eu não sou uma pessoa q tenho status social pra consumir. Eu não sou uma pessoa que tenho status pra existir pra não ser atropelado". Renata Falzoni



Complementando o que escrevi a semana passada sobre "Como ser uma bicicleta na cidade feita pra carros" http://ra-deriva.blogspot.com.br/2012/03/se-vc-nao-quer-continuar-olhando-para.html, assisti um depoimento em que Renata Falzoni descreve brilhantemente essa diferença.




E também fala sobre a economia real de energia, transformação, felicidade, a relação com a cidade, qualidade do ar, enfim, tudo o que a gente descobre rapidamente quando começa a pedalar. O discurso é muito bom, vale a pena assistir.


Em artigo publicado por Cynara Menezes, na Carta Capital, ela compara a sociedade brasileira com Hitler.


"Se fascistas e nazistas tinham lá sua admiração pelo ciclismo, o mesmo não se pode dizer da atrasada direita brasileira. Desde a manifestação que ocorreu em São Paulo na sexta-feira 2 de março em protesto pela morte de uma ciclista, atropelada por um ônibus na Av. Paulista, as agressões na internet não param. Pasme: não contra os carros ou o trânsito desumano da cidade, mas contra os que desejam fazer diferente e se deslocar em duas rodas. “Bikerdistas”, “fascibikers”, “talibikers”: assim tem sido chamados os ciclistas que tentam alertar a população de São Paulo para uma forma melhor de vida que não a ditadura do automóvel.
Dentro de seus carros, a direita balofa bufa contra os ciclistas que protestam, porque “param” o trânsito e “atrapalham” seu deslocamento egoísta e insano."


http://www.cartacapital.com.br/sociedade/piores-que-hitler/

Acabo de ler o depoimento de uma menina que apanhou na Avenida Paulista, por uma mulher que dizia que quem pedalava lá, deveria morrer. Atenção: ela apanhou por estar andando de bicicleta, novamente no espaço permitido, apenas por estar compartilhando o espaço. Apanhou dessa sociedade que não consegue enxergar além do universo que existe fora do seu carro. Ela não estava protestando contra nada. Apenas optou em se deslocar de bicicleta.

Como disse Sakamoto, no seu blog:

"Quem protesta de verdade, tentando mudar as coisas, é taxado de vagabundo, louco, imbecil, retrógrado, egoísta. Por quê? Porque seres civilizados nunca parariam o trânsito. Manifestação bonita é aquela asséptica que nasce e morre na internet e não ganha as ruas. Para estes manifestantes de butique, reclamar tem limites. A partir daí, vira arruaça. Ou pior, subversão.


Coletei exemplos disso ao longo do tempo. Alguns já postei aqui. Como a conversa de duas senhoras em um avião:
- Você viu que morreu uma daquelas sem-terra na rodovia dia desses. Atropelada.
- Também, estava andando no meio da estrada, fazendo protesto. Atrapalhando o trânsito."
Falando em manifestantes de butique, há um mês mais ou menos li uma publicação em que as pessoas de um bairro próximo ao meu manifestaram o desejo de manter um parque aberto até mais tarde, pra podermos usufruir do pouco espaço público que temos na cidade. O parque fica perto da minha casa, então logo entrei na discussão e me dispus a engrossar a massa. Foi marcada uma reunião, as 16 hs de uma quarta-feira. Eu reagendei outro compromisso para as 18hs, reorganizei a vida do meu filho, que nesse dia estaria em casa as 18hs, e fui.


Cheguei lá as 15:50, mandei uma mensagem pra pessoa que tinha marcado a reunião. Nada. Dei uma volta no parque. Voltei lá pra administração. 4:15. Nada. Mandei outra mensagem. Nada. Ninguém. Já que estava lá, entrei pra falar com o administrador do parque. Obviamente na segunda frase já agradeci e quis sair de lá o mais rápido possível. Mas o fato é que me dei conta de que estava lá, envergonhada da classe que eu supostamente representava: essa burguesia, que quer tudo na mão, mas não quer se mobilizar por nada. Esses manifestantes de butique. Que não se deslocam um quarteirão, pra ir até um PARQUE (não estou falando de ir a uma passeata na Av. Paulista "atrapalhar o trânsito", estou falando de ir ao parque que gerou a discussão sobre mantê-lo aberto por mais tempo). Essas pessoas se envergonhariam de ter alguém como eu as representando, alguém que não quer ser escrava do carro, alguém que sonha com uma cidade mais humana, alguém que provavelmente esta na frente "atrapalhando"o caminho deles.


Me pergunto também o que estavam fazendo os motoristas dentro dos seus carros no dia da bicicletada que "atrapalhou o trânsito"?  Se conseguirmos mais segurança pra pedalar, muita gente vai ter coragem, e quanto mais bicicletas nas ruas, menos carros, consequentemente menos trânsito. Ninguém ainda se deu conta disso?


Um artigo, este publicado em novembro de 2011 por uma brasileira que mora em Berlim, na época da construção da ciclofaixa em Moema, fala sobre a manifestação CONTRA uma ciclovia, e que isso só poderia estar acontecendo no Brasil, que em nenhum país do mundo se contestava sobre a possibilidade de uma vida mais saudável.


http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/11/09/bicicletas-intolerancia-no-brasil-claro-415617.asp



Sociedade brasileira: ATENÇÃO.
Quantas pessoas vão precisar morrer pra essa mentalidade continuar imperando? 
Como disse Renata Falzoni, a gente está anos-luz atrás. E daqui pra frente, nós teremos duas opções: PEDALAR OU PEDALAR.


Precisamos acordar, ir em busca do tempo perdido, e o que realmente vai fazer a diferença pra mudar, é a mudança do nosso comportamento. Se é difícil trocar o conforto do carro por outro meio de transporte, pelo menos lute para que outras pessoas possam fazer. Ou pelo menos aceite essa opção.
Afinal quanto mais gente podendo pedalar com segurança, quanto mais gente podendo usar o transporte público, a cidade vai melhorar também pra você, que quer continuar dirigindo!


E mais: muitos ciclistas já foram motoristas. Se a troca foi feita e nós saímos nas ruas batalhando pelo direito de pedalar e não voltamos a ter um carro, por que será que fazemos isso? Será que o motivo é realmente "atrapalhar a vida de vcs e o trânsito da cidade?" 





terça-feira, 20 de março de 2012

Um dia na vida de um ciclista!

13/03/2012, terça-feira


-  23km percorridos
- "Apenas" 5 finas educativas ( sendo 2 de motoristas de táxi)
-  4 conversas com os motoristas, 1,5m bla bla bla bla bla (com o último eu desisti de conversar) 
-  Um motorista de ônibus MUITO GENTIL, na avenida Pedroso de Moraes
-  Um motorista de ônibus me mostrando que meu lugar não era ali, na rua Mourato Coelho
-  13 carros, uma moto e um ônibus atravessando os semáforos COMPLETAMENTE VERMELHOS, sendo 4 desses veículos no cruzamento da Rebouças com a Joaquim Antunes 
- 4 quarteirões percorridos na calçada. 
-  NENHUM pedestre em perigo, aliás um trânsito caótico e nenhum pedestre na calçada.
- uma buzinadinha de um ciclista simpático

- uma conversa com uma ciclista no farol
- duas novas  fotos no instagram, enquanto esperava uma reunião, fazendo hora no parque...








MOTORISTA DE ÔNIBUS GENTIL

Vendo minha dificuldade em cruzar uma grande avenida, e percebendo que prejudicou a minha visão quando parou no ponto, o motorista de ônibus ainda esperou um tempo depois de pegar os passageiros até que os carros parassem de passar e me deu um sinal para que eu pudesse atravessar em segurança. Nao sei se ando muito sensível, mas juro que fiquei emocionada...

COISAS QUE SO ACONTECEM SÓ PORQUE VOCE ESTÁ DE BICICLETA. SE FOSSE UM CARRO, SERIA DIFERENTE.
A mulher e a amiga  num corsa, paradas em fila dupla numa rua tranquila em Pinheiros, sem pisca- alerta, pediam informações a um guarda. Eu vinha atrás e fiz a ultrapassagem pela esquerda. Logo depois estiquei a mão avisando que voltaria para o meu lugar, a direita, na sua frente. Durante minha ultrapassagem ela acelerou ainda olhando pro lado, falando com a pessoa que dava informações, e eu, tentando entrar na sua frente, fazendo sinal para ocupar o meu lugar, olhando pra ver se ela me via, pois obviamente a rua era dela, uma mulher que possuia um carro. 



OBVIAMENTE parou no próximo farol ( 99% das vezes isso acontece, fato). Eu avisei que ela estava distraída, que ela deveria prestar mais atenção quando saísse, porque na sua frente poderia ter um cachorro, uma bicicleta, até um ser humano... Ela disse: "você é que deveria ter esperado eu terminar de conversar atrás de mim". Sim, ela é a dona da rua, parada em fila dupla, sem pisca-alerta ligado, e eu, que tenho uma bicicleta, deveria ficar esperando atrás do carro dela até que ela resolvesse o que fazer... 


Nem respondi. Não vale a pena.

Geralmente os motoristas acatam bem quando batemos na janela e avisamos, com um sorriso e educação: "olha, o senhor sabia que por lei, um carro deve ultrapassar um ciclista a 1,5m de distância?". Eles pedem desculpas e depois buzinam em sinal de solidariedade.

MOTORISTAS DE TAXI

O motorista de táxi não teve paciencia de esperar atrás de mim para entrar na rua, então me fechou e virou na minha frente. OBVIAMENTE parou no trânsito, a menos de um quarteirão da cena.
Eu: O senhor acelerou tanto pra ficar parado? Pra que correr tanto?
Ele: Eu preciso correr!
Eu: Pra que?
Ele: Pra pegar passageiro.
Eu: Então, mas o senhor correu, correu, e continua aqui... parado no farol? A
s vezes esperar 10 segundos não vai fazer diferença pro senhor, mas pra mim pode fazer. E se o senhor me derrubar, não vai ser bom nem pra mim nem pro senhor. E outra: lembre-se que eu posso ser sua próxima cliente, porque quando chove, todos os que estão a sua volta saem de carro, e eu, com certeza vou precisar do senhor!
Fica a dica!


O fato é que é sempre algo tão sem propósito, são atos tão impensados, tão inconsequentes... Uma pessoa parar de acelerar pra você conseguir se posicionar no seu lugar, um motorista esperar 10 SEGUNDOS pra entrar na avenida, isso não vai fazer diferença pra eles ( eles vão parar no próximo farol, fato)  mas se eles encostarem no seu guidão, podem fazer um estrago em você. 


Este  vídeo feito pela Cicloliga, bem didático, explica porque ultrapassar o ciclista a 1,5m de distância.






Por isso a frase: "Sua pressa vale uma vida"?


Será que um dia alguém vai entender o verdadeiro sentido dessa frase, sem precisar tirar a vida de alguém?









segunda-feira, 12 de março de 2012

Como ser uma bicicleta na cidade feita para carros.












“Se vc não quer continuar olhando para a bicicleta como um esporte radical e perigoso: eu sobrevivi hoje, talvez eu sobreviva amanhã, é preciso de uma infraestrutura boa e segura”. Jan Gehl , arquiteto, numa entrevista para a jornalista Natalia Garcia. 


Usar a  bicicleta como meio de transporte em algumas cidades brasileiras como São Paulo é  como fazer um teste de sobrevivência todos os dias. Segundo dados do CET ( Companhia de Engenharia de Tráfego) aqui morre um ciclista por semana. Se formos analisar a quantidade de ciclistas que circulam pelas ruas pela quantidade de carros, isso é um número bastante significativo.

A cidade planejada para carros não aceita bem outro tipo de locomoção.
A classe média brasileira foi educada para ter um automóvel. Carro aqui é sinal de status. Os apartamentos aqui são vendidos pelo número de garagens e pelo tamanho do muro que protege (falsamente) os moradores.

A sociedade brasileira, mais precisamente a elite paulistana não consegue abrir os vidros dos seus carros pra enxergarem a pequena, mas crescente revolução que está se iniciando tardiamente na minha opinião. Ficam todos dentro de suas pequenas prisões, parados em congestionamentos de até 200km e apenas contestam o fato, individualmente. Mesmo assim, continuam repetindo a mesma rotina todos os dias.




A VELOCIDADE DA MUDANÇA.








Em 1996 foi aprovado o projeto de construção de uma ciclovia em uma grande avenida paulistana: a Av. Faria Lima. Dois anos depois foram instalados pontos de ônibus no meio dela. Em 2012, depois de 16 anos a cidade vai ganhar mais 2 km de ciclovia nesta avenida.  16 anos pra 2km seria mais um atraso do que uma evolução na minha opinião. 

Em outubro do ano passado uma ciclofaixa tímida e mal feita foi pintada em míseros seis quarteirões de um bairro nobre de São Paulo. Os moradores se revoltaram porque não teriam vagas pra estacionarem seus carros.



A jornalista Mônica Waldvogel deu um depoimento no seu programa, onde debochava de um amigo que tentava convencer um grupo de que a bicicleta seria o meio de transporte do futuro...

Quando a estação Butantã foi inaugurada na linha amarela, conversei com uma pessoa que morava a dois quarteirões de lá e trabalhava na Av. Paulista, perguntando se ela não estava feliz com essa facilidade, afinal da estação Butantã até a Av. Paulista são apenas 6 minutos de metrô. Fiquei surpresa quando notei que ela nem tinha cogitado essa hipótese. Continuava indo trabalhar de carro todos os dias, gastando sua horinha no trânsito e pagando estacionamento em plena Av. Paulista, como se aquela linha de metrô não tivesse nada a ver com a vida dela.

O que podemos perceber é que a velocidade da construção de ciclovias  e espaços exclusivos, assim como a conscientização da classe média é inversamente proporcional a velocidade dos carros.

Ou seja, as pessoas continuam pensando em continuar nos seus carros, e comprar outro carro pra driblar o rodízio, mesmo que isso custe três horas do dia de cada um.

Três horas que poderiam ser gastas de qualquer outra forma, mesmo que fossem pedalando. Mesmo que fossem em beneficio próprio.

Como diria Cazuza: “Enquanto houver burguesia, não vai haver poesia”...











CIDADANIA x OBSTÁCULOS.

O fato é que o trânsito cada vez fica pior e nunca os motoristas se reuniram pra fazer um protesto. Talvez por que para melhorá-lo, cada um sabe que terá que abandonar o carro em casa e optar por um transporte público. Talvez porque no carro eles tenham a falsa sensação de proteção que a couraça lhes coloca. Mas acho que o melhor motivo é porque dentro do carro, o motorista não sabe o verdadeiro sentido da palavra CIDADANIA, palavra que é rapidamente descoberta por quem sai de seu carro e passa a usar a bicicleta.

Digo isso por experiencia própria. Eu precisei sair do carro pra descobrir esses valores. Valores que não tem a ver com dinheiro ou classe social.

A bicicleta não é apenas um meio de transporte. É muito mais do que isso: é  o início de um processo de transformação do ser humano. Mas continua sendo vista aqui no Brasil como um obstáculo entre os carros e outros transportes motorizados. Ninguém consegue entender que o ciclista poderia ser outro motorista e estar ali ocupando um espaço maior e poluindo, ou ocupando mais um banco no transporte público. Enxergam como um obstáculo que está atrapalhando seu caminho. E pronto.

Uma grande inversão de valores se instala por aqui. Enquanto alguns ciclistas tentam se proteger usando as calçadas (ato proibido pelo Código de Trânsito Brasileiro ), pedestres pedem desculpas a eles por estarem atrapalhando seus caminhos e quando ciclistas tentam ocupar seu lugar na pista da direita, compartilhando-a com os carros, são espremidos por estes, que os mandam pra calçada.

Tudo errado. É o ser humano pedindo desculpas para uma máquina. A escala está invertida.  A cidade precisa ser usada pelas pessoas e não pelas máquinas. Somos motoristas, pedestres e ciclistas, mas igualmente seres humanos.
E em São Paulo, infelizmente o ser humano não é prioridade.

CIDADES MAIS HUMANAS. MAIS AMOR, MENOS MOTOR.

Semana passada 5 ciclistas morreram no Brasil.
Uma morte foi na avenida mais importante da cidade de São Paulo. A ciclista discutia com um motorista de ônibus quando foi atropelada por outro, que estava na sua faixa, na velocidade permitida e não tinha nada a ver com a história.

A bióloga Juliana Dias, de 33 anos, foi vítima da priorização da máquina . Da omissão de políticos e órgãos públicos. Da falta de humanização da nossa cidade. Da falta de aceitação da sociedade da bicicleta como um meio de transporte. Da inversão de valores da nossa sociedade.

Em 2009 ocorreu outra morte, a apenas um quarteirão do atropelamento. Márcia Prado, cicloativista, também foi  outra vítima da desumanização da nossa cidade.
Na avenida onde morreram, a velocidade máxima permitida é de 60km/h. Uma velocidade alta perto da quantidade de pedestres e ciclistas que circulam por lá todos os dias.
No dia 06/03 houve a Bicicletada Nacional. Ciclistas se uniram para pedir mais ciclovias, mais segurança no trânsito, e que as cidades sejam mais humanas. "Mais amor, menos motor".









Eu estava lá. Eu deitei na avenida mais importante da cidade entre centenas de cidadãos pedindo um mundo melhor.




Em 2009 foi Márcia, semana passada foi Juliana, amanhã pode ser eu, afinal eu optei pela minha liberdade, mas ela pode custar caro numa cidade onde as palavras “ velocidade e a intolerância” valem mais que  “liberdade e cidadania”.



domingo, 11 de março de 2012

Luis e Barnabé


Estes são Luis e Barnabé. Luis é brasileiro, Barnabé argentino. Tocam Chico Buarque na Av. Paulista. Se conhecem há muito pouco tempo, mas parece que a parceria está dando certo.


Essa semana ouvi uma história interessante sobre uma experiência feita pelo Washington Post. O melhor violinista do mundo, Joshua Bell tocava um violino de mais de $3,000,000.00 numa estação de metrô e ninguém reparou na sua música.


Os ingressos para seu concerto chegam a custar 100 euros.


Ele tocava de graça, e ninguém parou pra ouvir... Se o jornal queria comprovar que as pessoas não prestam atenção no que acontece na sua frente, bingo! Acertou em cheio!





terça-feira, 6 de março de 2012

As questões que envolvem os direitos e deveres do ciclista.



O que falta em São Paulo? Além de ciclovias, faltam cidadania e educação.


Quando eu defendo o uso da bicicleta em São Paulo, as primeiras frases que eu ouço são: ciclistas não respeitam ninguém. Ciclistas são mal educados.
Enquanto eu acabava de escrever sobre isso, li essa matéria na Folha de São Paulo, e toda sua repercussão entre os ciclistas.


http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1057752-ciclistas-se-arriscam-e-cometem-infracoes-no-transito-de-sp.shtml

Em primeiro lugar, não podemos generalizar, afinal há ciclistas educados e ciclistas mal educados assim como há motoristas educados e motoristas mal educados.


E também não da pra separar:


1 - ciclistas já foram e muitas vezes também são motoristas 
2 - ciclistas também são pedestres 
3 - ciclistas não estão em guerra com os motoristas nem com pedestres.




Também não entendi algumas observações quanto a imprudência de alguns ciclistas fotografados, mas mesmo que em alguns casos eles tenham acertado, vamos entender o que faz um ciclista "se arriscar" no trânsito.

1 - Porque o ciclista "fura" o farol?


O principal motivo é pela sua própria segurança. Dar a largada um pouco a frente dos carros é mais seguro, já que ele demora um tempo para "engatar a primeira" e anda numa velocidade inferior aos carros.


Em Paris estão testando uma medida para que o ciclista possa sair antes dos carros nos faróis.




Em algumas cidades o farol para ciclistas abre um pouco antes do que o dos motoristas, justamente por esse motivo.


Trecho do livro Diários da Bicicleta, do David Byrne, falando sobre Berlim e os semáforos que abrem antes para as bidicletas.


2- Por que o ciclista pára muitas vezes entre a faixa de pedestres e o cruzamento? 


Também para aumentar sua segurança. Para ser visto pelos motoristas e para conseguir sair antes dos carros.

Em algumas cidades há uma faixa entre a faixa dos pedestres e a faixa dos carros. É a "bike box". Tudo para que o ciclista consiga sair em segurança.




Imagens tiradas do blog: http://stlelsewhere.blogspot.com/2011/01/bike-st-louis-portland-bike-box.html

3 - Porque o ciclista circula entre os carros, já que a distância de ultrapassagem deve ser de 1,5m?


O ciclista circula entre os carros quando estes estão parados. Então os riscos de acidente são quase nulos, a não ser que algum motorista resolva abrir a porta enquanto está parado no farol, o que raramente acontece. E nessas condições ele está em baixíssima velocidade e prestando muita atenção, portanto não haverá nenhuma fatalidade.
Na hora que o farol abre, ele estende a mão pedindo para voltar novamente a sua faixa: a da direita.


4- Porque o ciclista ocupa a faixa inteira da direita e não o cantinho dela?


Quando um ciclista está ocupando a pista da direita inteira ele não está fazendo nenhum tipo de protesto ou querendo competir com o motorista. Ele está pedalando lá também por questões de segurança. 
Quando ele ocupa a faixa como se fosse um carro, obriga os veículos a mudarem de faixa para ultrapassá-lo, fazendo uma ultrapassagem segura e não colocando o ciclista em risco.


5- Porque o ciclista grita?

É muito romântica aquela buzininha " trim trim", mas as vezes não resolve. O grito do ciclista é sua buzina mais eficiente. Eu mesma que sou tímida, me surpreendo com os gritos que consigo dar quando me sinto ameaçada.

6- No caso da Av. Paulista, onde o ciclista deve pedalar?

Há um mês eu pedalava na Av.Paulista, me senti insegura devido justamente a velocidade dos ônibus. Então subi na calçada e encontrei dois guardas. Perguntei onde seria o melhor lugar para pedalar lá. Eles me aconselharam a ir pela segunda faixa. Como eu estava a passeio e não tinha pressa, acabei indo pela calçada, contrariando as leis do nosso trânsito. 


7 - Porque alguns ciclistas andam pela calçada?

Quando me sinto insegura pedalando por grandes avenidas eu vou sim pela calçada até encontrar um caminho alternativo, uma rua menos movimentada. Nao é o correto, mas prezando pela minha segurança eu vou.


Mas acredito mesmo no bom senso de todos: motoristas, ciclistas e pedestres.
Quando nós trocamos o carro pela bicicleta, aprendemos o verdadeiro sentido da palavra CIDADANIA. Aprendemos a ser cidadãos. Sendo assim, não vamos usar a bicicleta como uma arma, portanto acredito que se soubermos conduzí-la com cuidado por uma calçada larga não causaremos acidentes.


Não vou questionar a lei. A lei está correta ( o Código Brasileiro de Trânsito não permite bicicletas na calçada). O que faltam são condições para que o ciclista possa cumprí-la. Afinal alguém optaria em subir na calçada caso houvesse uma ciclovia? 


A ciclovia da Faria Lima: Quem anda de carro acha que isso é uma ciclovia, mas quem precisa usá-la sabe que não é bem assim.

No meio do caminho tinha um ponto de ônibus.

No meio do caminho tinha um degrau.
O projeto de ciclovia da Faria Lima existe há 15 anos. Em 2012 vamos ganhar 2km , que custarão R$ 8.000.000,00.  15 anos para 2 km... podemos encarar isso como uma conquista?


Há uma grande inversão de valores na nossa sociedade.
Quando pedalo na calçada, na velocidade dos pedestres, as pessoas as vezes me vêem e me dão passagem, pedindo desculpas. Eu logo digo: "Eu é que peço desculpas, estou no lugar errado". E muitas vezes ouço ( geralmente dos mais velhos): "Melhor você estar aqui do que na rua".
E quando estou na rua, ocupando o lugar que realmente tenho direito, levo aquelas "finas educativas" dos carros, querendo me mostrar que meu lugar não é ali.


TUDO ERRADO.


Na verdade tudo o que o ciclista faz é para tentar encontrar o seu melhor caminho naquele momento. Numa cidade onde a bicicleta não é aceitável como um meio de locomoção quem a conduz precisa se proteger. O ciclista não se arrisca no trânsito. Ele se defende. 


Por isso quando alguém manifesta raiva ao ciclista eu penso: 
Porque tanta raiva? A bicicleta, mais que um meio de locomoção, é um meio de virarmos cidadãos. 
E a partir disso, um mundo se abre a nossa frente. 


Depois de começar a usá-la como meio de transporte, começamos a enxergar as calçadas ( esburacadas e minúsculas), reparamos na falta de faixas para atravessar, na quantidade de pessoas que circulam pelas ruas porque não conseguem se locomover pelas calçadas, nos preocupamos com o bem estar do próximo, nos envolvemos em causas sociais, associações de bairros, enfim, exercemos nosso papel de cidadãos.

Cadeirante, criança e entregador, os " sem-calçada"  andam pela rua Santa Efigênia, em São Paulo.
A calçada é estreita e esburacada.
Andando a pé por um bairro nobre em São Paulo.

Por aqui, os pedestres são obrigados a passar pela rua.
Minha pergunta: pra que serve esse painel? por onde passam os pedestres? 
A bióloga Juliana Dias morreu exercendo seu papel de cidadã. Fazia parte do Pedal Verde, que promove passeios de bicicleta plantando árvores pela cidade e conscientizando as pessoas sobre a importância da preservação do meio ambiente. Pedalava por um mundo melhor.




Juliana não andava pela contramão, nem estava infringindo nenhuma lei, estava no seu direito, pedalando onde seria permitido. Segundo o depoimento do próprio motorista que a atropelou ( este sem culpa) ela era uma ciclista consciente, sabia ocupar seu espaço, sinalizava antes de entrar na faixa, e usava todos os equipamentos de segurança.


Juliana estava no caminho certo, mas parece que aqui no Brasil, ainda andamos pela contramão. Continuamos pensando no transporte individual, continuamos mandando as bicicletas andarem nos parques, continuamos dentro dos nossos carros com o ar condicionado ligado, fechando o vidro para uma grande revolução, na minha opinião irreversível.


E enquanto isso cidadãos continuam morrendo...



Agradecimentos a Willian Cruz, do Vá de bike.